13 de nov. de 2015

Biblioteca comunitária em cemitério

Autoria: Fernanda Miranda e Heloisa Aun.
Fonte: Catraca Livre. Data: 11/11/2015.
No extremo sul da capital paulista, a cerca de 40 quilômetros do centro, está localizada a região de Parelheiros, considerada Patrimônio Ambiental por sua riqueza em recursos naturais. Embora seja a subprefeitura com maior área verde por habitante, também é um dos locais com maior índice de vulnerabilidade social da cidade (Censo 2010 - IBGE).
Tendo em vista a necessidade de ações na região, o Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário (Ibeac), que trabalha no processo de democratização e empoderamento das comunidades, escolheu se fixar em 2006 no local, que tem os piores indicadores sociais de São Paulo. Assim surgiu a ideia de desenvolver projetos com os moradores, em especial jovens e crianças.
Entre as iniciativas, está a Biblioteca Comunitária Caminhos da Leitura, criada em 2009 dentro de uma Unidade Básica de Saúde (UBS), que meses depois foi transferida para uma casa em um cemitério do bairro de Colônia, em Parelheiros, antes habitada pelo coveiro.
A biblioteca foi pensada como um espaço democrático para toda a comunidade, por meio da literatura e de atividades culturais. No local, são promovidos saraus, cortejos, clubes e mediações de leitura, além de exibições e debates sobre filmes. O Catraca Livre esteve no último sarau, cujo tema foi a morte nas religiões.
O "Sarau do Terror" contou com poesias, histórias assustadoras, música, teatro, além de um tour pelo Cemitério da Colônia, o mais antigo da cidade, fundado em 1829. Atualmente, o projeto é liderado pelos Jovens Escritureiros, um grupo composto por cinco jovens entre 19 e 24 anos, que fazem a gestão e organizam a programação da biblioteca comunitária.
Sobre a importância da iniciativa para a região, a coordenadora do Ibeac, Bel Mayer, afirma: "O investimento na literatura é muito importante. Ela tem o poder transformador que as metáforas fazem na vida da gente. Viver outras histórias faz com que as pessoas se solidarizem e encontrem soluções a problemas parecidos com os seus".
A "Caminhos da Leitura" tem um acervo de aproximadamente 3.500 títulos, entre livros infantis e clássicos da literatura brasileira e internacional, atendendo cerca de 300 pessoas todo mês. O projeto conta com a parceria de nomes como a Companhia das Letras, o Instituto C&A e o Consulado Alemão.
Sidineia Chagas, de 24 anos, está no projeto desde os 17. Ela explica que no início o público frequentador era formado por crianças e jovens, mas agora há uma maior adesão de outras faixas etárias. "A biblioteca é mais do que um espaço de leitura: é um local de encontro, de constituir as necessidades da comunidade, trabalhando com várias temáticas".
Com a organização de debates acerca de temas como feminismo, violência contra a mulher, racismo e desigualdade social, os jovens têm a possibilidade de se empoderar sobre questões fundamentais do cotidiano.
"Isso é transformador para os meninos, as famílias e a própria comunidade, que está entrando na mídia de outro jeito. Há seis anos não encontraríamos uma reportagem falando de eventos literários em Parelheiros. Antes só ouvíamos falar em sequestro, violência e, no máximo, de comunidades indígenas", completa Bel Mayer.
Em reconhecimento ao trabalho realizado na biblioteca, o grupo tem sido chamado para participar de outros eventos literários e culturais em vários estados no Brasil, como a Flip, em Paraty (RJ).

Os encontros da "Caminhos da Leitura" são gratuitos e abertos ao público. A programação pode ser conferida na página do Facebook.

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