28 de ago. de 2012

Um país de contrastes


Autora: Camila Freitas Soares.

Fonte: Observatório da Imprensa. Data: 21/08/2012.


O Ministério da Cultura (MinC) lançou no final de 2011 mais uma iniciativa de estímulo à leitura, intitulada “Leia mais, seja mais”. A campanha conta com o apoio da Fundação Biblioteca Nacional (FBN) e tem como objetivo incentivar a leitura e o uso das bibliotecas públicas, visando ao desenvolvimento pessoal dos leitores. A campanha é louvável, assim como tantas outras voltadas para as áreas da cultura e educação. Incentivar o uso de bibliotecas públicas por pessoas de classes menos favorecidas é, sem dúvida, um meio de contribuir para seu desenvolvimento, visto que a leitura é um dos meios mais eficazes para o enriquecimento cultural do indivíduo.

Seria formidável se não fosse contraditório: a segunda etapa da campanha foi lançada no início de agosto, quando servidores e professores de institutos e universidades federais caminham para o segundo mês de uma greve nacional que paralisou as atividades regulares antes mesmo do término do primeiro semestre letivo. O lançamento da campanha também coincide com a situação lamentável em que se encontra a maioria das bibliotecas públicas municipais e estaduais por todo o Brasil: o convívio quase constante com a necessidade de reformas, reparos e investimentos em setores específicos, como os de preservação, obras raras e digitalização de acervos (ainda não disponível em todas as bibliotecas).

Educação e valorização profissional

Não esquecendo também de falar das bibliotecas comunitárias e escolares, que recebem investimentos irrisórios do Poder Público para a manutenção física, mas que não contam com pessoal especializado para o desenvolvimento de suas atividades. As bibliotecas comunitárias quase sempre precisam de voluntários, enquanto as escolares nem mesmo são chamadas de bibliotecas: são as famosas “salas de multimeios” geridas por um professor que se afastou das funções e que mais parecem com uma sala de jogos. Também são facilmente utilizadas como forma de punição para os alunos mais relapsos: ficar na “biblioteca” para pensar e reavaliar os erros que cometeram enquanto estudantes. Sobram recursos e falta interesse por parte do governo em contratar profissionais especializados para suprir as carências desses locais. Graduações em Biblioteconomia contam com professores qualificados e alunos dispostos a encarar um mercado de trabalho desafiador à sua frente. Desafiador porque ao bibliotecário não compete apenas a missão de zelar por uma biblioteca ou qualquer outro suporte de informação. Fazer da biblioteca um local mais “atraente” também é competência de um bibliotecário e essa tarefa não tem sido fácil num país onde mais de 100 milhões de pessoas apontam inúmeras razões para não ler.

Ler mais não depende apenas de campanhas. Depende também de investimentos maciços em educação, não muito comuns num país que aparece na 84ª posição no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Priorização da educação e valorização profissional, estas, sim, são medidas necessárias para que sejamos mais, em todos os sentidos.

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[Camila Freitas Soares é estudante de Biblioteconomia da Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE]

Um comentário:

Anônimo disse...

Nossa! Que maturidade dessa aluna, ela foi no ponto central do problema das bibliotecas públicas brasileiras: falta de bibliotecário!